ORQUÍDEAS BRASILEIRAS E ABELHAS
Texto e fotos: Rodrigo B. Singer
Agradecimentos a Rosana Farias-Singe
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ORQUÍDEAS NECTARÍFERAS POLINIZADAS POR EUGLOSSINI

Os machos de abelhas Euglossini são tão famosos pela sua conduta de coleta de fragrâncias em flores de orquídeas que muitas pessoas esquecem que (como qualquer outra abelha), machos e fêmeas visitam outras flores a procura de néctar. Ainda, as fêmeas (exceto em Aglae e Exaerete) visitam flores de diversas famílias de angiospermas para obter pólen, como o resto das abelhas não parasíticas. Em anos recentes, pudemos constatar que machos e fêmeas de Euglossini visitam e polinizam algumas espécies de orquídeas terrestres (subfamília Orchidoideae) (Singer & Sazima 1999, Singer & Sazima 2001b). Estas orquídeas apresentam longas cavidades nectaríferas onde as abelhas inserem suas peças bucais. Fêmeas de Euglossa foram documentadas como polinizadoras de Sarcoglottis fasciculata (Subtribo Spiranthinae) (Figura 13), uma orquídea freqüente em matas mesófilas da região Sudeste do Brasil. O polinário se adere na superfície ventral do labrum, dificultando sua remoção por parte da abelha. Fêmeas de Euglossa chalybeata iopoecila e Euglossa cf. ignita foram documentadas como polinizadoras das flores de Aspidogyne longicornu (subtribo Goodyeriinae). Aqui também o polinário se adere na face ventral do labrum (Figura 13). Recentemente, (Singer, inédito) foi capturado um macho de E. cf. ignita carregando um polinário desta orquídea na Ilha do Cardoso (município de Cananéia, São Paulo). É chamativo que ambas as espécies de orquídea, embora pertençam a subtribos diferentes, apresentam uma estratégia de polinização semelhante.

A fixação do polinário na face ventral do labrum nos parece um fato ecologicamente significativo:
1) torna difícil a remoção do polinário por parte da abelha e
2) o labrum é uma peça bucal versátil.
Quando a abelha retrai a proboscis e fecha as peças bucais, o labrum fica retraído abaixo da cabeça. Se houver um polinário aderido na face ventral do labrum, este ficará protegido abaixo da cabeça da abelha durante o vôo. Estes fatores antes citados propiciam não apenas a permanência do polinário na abelha, mas também a polinização cruzada e a distribuição do pólen ao longo de longas distâncias (vale lembrar que os polinários de Orchidoideae são quebradiços e seu conteúdo polínico pode ser distribuído através de muitas visitas florais).

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Figura 13: Euglossini e orquídeas nectaríferas. A) Euglossa visitando flores de Sarcoglottis fasciculata (Orchidoideae: Spiranthinae). B) Euglossa com polinário de S. fasciculata aderido na face ventral do labrum. C) Euglossa cf. ignita visitando inflorescência de Aspidogyne longicornu (Orchidoideae: Goodyerinae). D) Euglossa chalybeata iopoecila com polinário de A. longicornu aderido na face ventral do labrum.