ORQUÍDEAS
NECTARÍFERAS POLINIZADAS POR EUGLOSSINI
Os
machos de abelhas Euglossini são tão famosos pela
sua conduta de coleta de fragrâncias em flores de orquídeas
que muitas pessoas esquecem que (como qualquer outra abelha), machos
e fêmeas visitam outras flores a procura de néctar.
Ainda, as fêmeas (exceto em Aglae e Exaerete)
visitam flores de diversas famílias de angiospermas para
obter pólen, como o resto das abelhas não parasíticas.
Em anos recentes, pudemos constatar que machos e fêmeas de
Euglossini visitam e polinizam algumas espécies de orquídeas
terrestres (subfamília Orchidoideae) (Singer & Sazima
1999, Singer & Sazima 2001b). Estas orquídeas apresentam
longas cavidades nectaríferas onde as abelhas inserem suas
peças bucais. Fêmeas de Euglossa foram documentadas
como polinizadoras de Sarcoglottis fasciculata (Subtribo
Spiranthinae) (Figura 13),
uma orquídea freqüente em matas mesófilas da
região Sudeste do Brasil. O polinário se adere na
superfície ventral do labrum, dificultando sua remoção
por parte da abelha. Fêmeas de Euglossa chalybeata iopoecila
e Euglossa cf. ignita foram documentadas como
polinizadoras das flores de Aspidogyne longicornu (subtribo
Goodyeriinae). Aqui também o polinário se adere na
face ventral do labrum (Figura 13).
Recentemente, (Singer, inédito) foi capturado um macho de
E. cf. ignita carregando um polinário desta
orquídea na Ilha do Cardoso (município de Cananéia,
São Paulo). É chamativo que ambas as espécies
de orquídea, embora pertençam a subtribos diferentes,
apresentam uma estratégia de polinização semelhante.
A fixação
do polinário na face ventral do labrum nos parece um fato
ecologicamente significativo:
1) torna difícil a remoção do polinário
por parte da abelha e
2) o labrum é uma peça bucal versátil.
Quando a abelha retrai a proboscis e fecha as peças bucais,
o labrum fica retraído abaixo da cabeça. Se houver
um polinário aderido na face ventral do labrum, este ficará
protegido abaixo da cabeça da abelha durante o vôo.
Estes fatores antes citados propiciam não apenas a permanência
do polinário na abelha, mas também a polinização
cruzada e a distribuição do pólen ao longo
de longas distâncias (vale lembrar que os polinários
de Orchidoideae são quebradiços e seu conteúdo
polínico pode ser distribuído através de muitas
visitas florais).
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Figura
13: Euglossini e orquídeas nectaríferas.
A) Euglossa visitando flores de Sarcoglottis fasciculata
(Orchidoideae: Spiranthinae). B) Euglossa com polinário
de S. fasciculata aderido na face ventral do labrum. C)
Euglossa cf. ignita visitando inflorescência
de Aspidogyne longicornu (Orchidoideae: Goodyerinae). D)
Euglossa chalybeata iopoecila com polinário de A.
longicornu aderido na face ventral do labrum.
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