ORQUÍDEAS BRASILEIRAS E ABELHAS
Texto e fotos: Rodrigo B. Singer
Agradecimentos a Rosana Farias-Singe
r

ABELHAS MELIPONINI E ORQUÍDEAS

As abelhas Meliponini são eusociais, isto é, há nestas abelhas determinação de castas e divisão do trabalho nas colméias. As colméias podem abrigar milhares de indivíduos e as operárias precisam não apenas coletar néctar e pólen, mas também substâncias (principalmente resinas) que são utilizadas como material de construção no ninho. Numerosas orquídeas brasileiras são polinizadas por estas abelhas.

Subfamília Epidendroideae, subtribo Maxillariinae: numerosas espécies do gênero Maxillaria não oferecem quaisquer recompensas aos polinizadores, mas apresentam fragrâncias e colorações que atraem operárias dos gêneros Trigona (freqüentemente, T. spinipes). Isto parece ser um fato freqüente em Maxillaria picta e espécies próximas (Singer 2003, Singer & Koehler 2004) (Figura 14). Estas abelhas aderem os polinários na região do escutelo (Figura 14). Em geral, as abelhas visitam as flores apenas nos primeiros dias de florada, sugerindo que são capazes de reconhecer que estas flores não apresentam recompensas após um curto período de interação com elas (Singer & Cocucci 1999b, Singer & Koehler 2004). Há também numerosas espécies de Maxillaria que oferecem secreções cerosas /resinosas ou tufos de tricomas aos polinizadores (Flach et al., 2004, Singer & Koehler 2004). Já foi documentada a polinização de Maxillaria brasiliensis (Singer & Koehler 2004) e, mais recentemente, M. discolor (Singer & Koehler, inédito) por operárias de Trigona que coletam tricomas no labelo destas orquídeas. Em ambos os casos, as abelhas aderem os polinários no escutelo (Singer & Koehler 2004). Operárias de Plebeia sp. foram observadas visitando as flores de M. parviflora, mas ainda não pode ser constatado se são de fato polinizadoras. Operárias de Partamona hellerii já foram encontradas carregando polinários de orquídeas Maxillariinae na Estrada da Graciosa, Paraná (Singer, inédito). Não foi possível ainda esclarecer a identidade destes polinários.

Subfamília Epidendroideae, subtribo Polystachiinae. Esta Subtribo de orquídeas é pantropical e deve apresentar diversos tipos de polinizadores ao longo da sua distribuição. Durante numerosas visitas no Orquidário do Instituto de Botânica, em São Paulo, São Paulo, pudemos constatar que as plantas cultivadas de Polystachya concreta eram sistematicamente visitadas e polinizadas por operárias de Trigona spinipes. As abelhas coletavam os tricomas esbranquiçados da superfície do labelo. Durante o processo, deslocavam numerosos polinários que se aderiam na face das abelhas (Figura 15).

Subfamília Epidendroideae, subtribo Angraeciinae: operárias de Trigona spinipes e Plebeia sp foram observadas visitando e polinizando as minúsculas flores nectaríferas de Campylocentrum burchellii (uma orquídea notável por ser totalmente áfila e acaule). As abelhas aderiam os polinários na face ventral da proboscis (Singer & Cocucci 1999a).

próximo tópico

clique para ampliar

Figura 14: Abelhas Meliponini e orquídeas da subtribo Maxillariinae. A) Operária de Trigona spinipes visitando Maxillaria picta. B) Trigona sp. com polinário de Maxillaria marginata aderido no escutelo. C) Operária de Trigona sp. vistando flor de Maxillaria brasiliensis (note-se que a abelha já carrega um polinário desta orquídea no escutelo). D) Trigona sp. com polinário de Maxillaria brasiliensis aderido no escutelo.

clique para ampliar

Figura 15: Abelhas Meliponini e Polystachya concreta (Epidendroideae: Polystachiinae). A-B) Operárias de Trigona sp. coletando os tricomas do labelo das flores. C) Operária de Trigona sp. com alguns polinários aderidos na face.