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Métodos de Pesquisa

Laboratório de Abelhas - USP

A contribuição da melissopalinologia

A melissopalinologia é uma área aplicada da palinologia: estudo da morfologia dos grãos de pólen (e esporos), principalmente, os aspectos estruturais e esculturais da parede polínica.

Os grãos de pólen apresentam uma riquíssima variedade de tamanhos, formas e padrões ornamentais na parede, que são típicos para cada grupo ou espécie de plantas. E toda essa engenhosidade tem uma função: proteger o gameta masculino da desidratação, viabilizar a absorção de água e de substâncias estimulantes na fase de germinação; facilitar a aderência aos corpos de polinizadores (como as abelhas) ou à superfície do órgão feminino da flor.

A substância que forma a parede dos grãos de pólen é um dos materiais orgânicos mais resistentes na natureza: resiste bem ao tempo geológico (milhares a milhões de anos), à decomposição por microorganismos, ao ataque de substâncias corrosivas (ácidos, por ex..) e à digestão.

Tudo isso transformou os grãos de pólen em um instrumento de fácil manuseio e aplicação em várias áreas de estudo, como a copropalinologia (identificação do pólen nas fezes de animais, para conhecer seu hábito alimentar); a geopalinologia e a paleopalinologia (estudo dos grãos de pólen nas camadas do solo, para caracterização de regiões petrolíferas, reconstituição de antigas vegetações, conhecimento dos costumes de antigas culturas humanas, etc.); a melissopalinologia (identificação do pólen no mel, para caracterização geográfica e floral, com aplicação no controle de qualidade, reconhecimento da flora apícola e estudo da ecologia alimentar das abelhas); e, fundamentalmente, a palinotaxonomia, que usa o pólen para compreender as relações de “parentesco” entre os grupos vegetais. A palinotaxonomia fornece a base para os demais estudos aplicados dos grãos de pólen.

A grande diversidade da flora na América do sul e central e por extensão no Brasil, oferece um grande desafio para a melissopalinologia que, mesmo nestas circunstâncias, se tornou um valioso instrumento na busca de informações sobre a flora nectarífera regional. O sucesso dos estudos melissopalinológicos depende fundamentalmente da disponibilidade de dados sobre morfologia dos grãos de pólen da flora nativa. Por isso, em pesquisas sobre méis é comum a elaboração de laminários de referência com o pólen da flora local.

A consulta às publicações especializadas sobre palinotaxonomia fornece o outro ponto de apoio importante. No Brasil, são particularmente importantes os estudos a Dra. Therezinha S. Melhem e sua equipe vêm desenvolvendo no Instituto de Botânica, e as publicações da Dra. Monica Barth, do Instituto Oswaldo Cruz, com vários catálogos sobre o pólen de plantas arbóreas e informações específicas sobre grãos de pólen no mel. Destaca-se pela abrangência o livro sobre palinologia do cerrado de Salgado-Labouriau (1973), uma das pioneiras desta linha de pesquisa no Brasil.

Os objetivos básicos dos estudos melissopalinológicos são: identificar e quantificar os grãos de pólen no mel, para conhecer as fontes de néctar em cada região florístico- geográfica e para estimar a origem geográfica e floral dos méis.

Os grãos de pólen abrigam o gameta masculino da flor. Para que fertilizem os óvulos, devem ser transportados para a superfície receptiva do órgão feminino, o estigma. Esse transporte do pólen chama-se polinização e é realizado por vários tipos de polinizadores: vento, água, borboletas, abelhas, beija-flores, morcegos, etc..

Nas flores, os grãos de pólen aparecem agrupados em pequenos “estojos”, as anteras, de onde são liberados quando atingem a maturidade. Nesta fase, podem cair no interior da própria flor, onde, eventualmente, existe néctar acumulado. Outras vezes, durante a visita à flor, a abelha esbarra nas anteras e se impregna com o pólen, “contaminando” em seguida o néctar que está ingerindo. Por isso, em geral, no mel aparecem grãos de pólen das flores onde o néctar foi coletado. Como as flores de diferentes espécies vegetais possuem tipos diferentes de grãos de pólen, através da sua identificação e contagem é possível estimar a origem floral e geográfica do mel.

Na imagem ao lado podemos analisar as etapas de identificação dos grãos de pólen presentes no mel. Em 1) o mel é colocado sobre uma lâmina para ser observado em microscópio (2). Em 3) temos uma idéia da variedade de formas e tipos de grãos de pólen que podemos encontrar. Em 4) e 5) podemos verificar a qual espécie vegetal pertence o grão encontrado, através de comparação com o polinário de referência. Dependendo da freqüência com que os grãos apareceram na lâmina podemos afirmar que a espécime vegetal em questão é uma importante fonte de néctar (6) para a abelha estudada.